Trabalho Escravo
15 pessoas são resgatadas de trabalho escravo no Maranhão
Cotidiano

Além dos trabalhadores, uma criança de 10 anos e um adolescente de 15 anos também estavam sendo explorados

Duas operações realizadas em cinco municípios do Maranhão resultaram no resgate de 15 trabalhadores em condições semelhantes à escravidão. Uma criança e um adolescente também foram encontrados em situação de trabalho infantil. Uma das equipes da força-tarefa foi coordenada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, o GEFM, e contou com a presença do Ministério Público do Trabalho no Maranhão. O outro grupo foi coordenado pela Gerência Regional do Trabalho de Imperatriz. A atuação em conjunto ocorreu de 14 a 24 deste mês.

Em Bom Jesus das Selvas ocorreu o maior resgate: 13 trabalhadores estavam em condições degradantes em uma fazenda destinada ao cultivo de grãos. Os empregados foram resgatados por dois auditores-fiscais do Trabalho de Imperatriz, com o apoio da 2ª Companhia da Polícia Militar de Bom Jesus das Selvas e da Promotoria de Justiça de Buriticupu.

O Grupo Especial de Fiscalização Móvel, por sua vez, apurou denúncias de trabalho escravo em propriedades rurais localizadas em outros quatro municípios maranhenses: Amarante, Açailândia, Pastos Bons e Balsas.

De acordo com o procurador do Trabalho do MPT no Maranhão, Luciano Aragão, presente na operação do grupo móvel nacional, nas cidades Amarante e Açailândia foram resgatados dois trabalhadores; em Pastos Bons, foram encontradas uma criança de 10 anos e um adolescente de 15 anos de idade em situação de exploração de trabalho infantil. Em Balsas foram identificadas irregularidades numa carvoaria.

Além do MPT-MA, participaram da operação do GEFM o Ministério do Trabalho e Previdência, Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União e Policia Federal.

Um dos trabalhadores foi resgatado na Fazenda Bom Retiro, em Amarante. Ele fazia o roço de juquira, que consiste na preparação do pasto para o gado. Encontrava-se alojado em um barracão de estrutura comprometida, com instalação elétrica irregular e fiação exposta. As condições de higiene eram precárias, não havia instalação sanitária. A alimentação era preparada em fogareiros improvisados com lata, tijolos e barro. A água era armazenada em uma caixa fixada no chão, sem nenhum tipo de cobertura ou proteção.

O trabalhador resgatado ainda tinha que comprar o próprio material de trabalho: facas, luvas, botas, foice, lima, esmeralda, entre outros, não tendo recebido nem mesmo equipamento de proteção individual (EPI) para aplicação de agrotóxicos na roça. Ele também precisou pagar ao empregador uma taxa de R$ 180,00 pela energia elétrica consumida no barracão.

Após o resgate, ele foi encaminhado à Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo do Maranhão, para receber assistência social e apoio necessários.

O outro trabalhador resgatado atuava na Fazenda Agro-Estrela, propriedade produtora de soja, em Açailândia. Ele encontrava-se alojado em um barracão/armazém e vivia em condições degradantes, dividindo o espaço com materiais de trabalho, ferramentas, óleo de motor e vasilhames de agrotóxicos descartados de forma inadequada. Não tinha EPI (Equipamentos de Proteção Individual), salvo máscara para aplicação de agrotóxicos, armazenada de forma inadequada.

Após o resgate, houve a rescisão do contrato de trabalho em razão das condições degradantes. Os empregadores concordaram com o pagamento das verbas rescisórias e do dano moral individual, e assinaram TAC (Termo de Ajuste de Conduta), comprometendo-se a adequar as irregularidades identificadas e a efetuar o pagamento de indenização por dano moral coletivo.

Trabalho infanto-juvenil

Uma criança de 10 anos e um adolescente de 15 anos de idade foram encontrados em situação de exploração de trabalho infanto-juvenil na Fazenda Primavera, no povoado do Roçado, em Pastos Bons. O menino de 10 anos era explorado como carregador de lenha, das 8h às 10h30, e recebia R$ 40,00 por dia. Já o adolescente, além da lenha, carregava cana-de-açúcar. Ele era explorado das 7h às 10h30 e das 13h às 15h30, recebendo R$ 50,00 pela diária.

Na propriedade ainda foram encontrados outros quatro trabalhadores sem registro formal de trabalho. Os mesmos não possuíam EPIs e, no local, não havia material para prestação de primeiros socorros. As instalações elétricas do lugar ofereciam risco de choque e os maquinários estavam sem proteção. Ainda foi constatado o não fornecimento de água e a ausência de instalações sanitárias aos trabalhadores.

Os empregadores, em reunião com a equipe fiscalizadora, efetivaram o pagamento das verbas rescisórias da criança e do adolescente encontrados em situação irregular de trabalho. Eles também assinaram termo de ajuste de conduta (TAC) com o MPT-MA a fim de regularizar o meio ambiente de trabalho.

Carvoaria

Em Balsas, a operação esteve na empresa Gomes e Zago Imóveis e Agronegócio, que produz carvão vegetal. Foram identificadas diversas irregularidades, porém não houve resgate de trabalhadores e nem de crianças e adolescentes. Haverá audiência para tratar da possível adequação da conduta, inclusive em relação à terceirização de mão de obra, por meio de assinatura de TAC. Caso não haja acordo, o MPT-MA poderá ajuizar uma ação civil pública (ACP).

TJ absolve Marcelo Baldochi em processo sobre trabalho escravo
Cotidiano

Relator teve voto vencido pela maioria dos desembargadores do pleno da corte

Por maioria de votos, o pleno do Tribunal de Justiça do Maranhão decidiu absolver o juiz de Direito Marcelo Testa Baldochi. Contra o magistrado pesava a acusação de manter trabalhadores em condição análoga à escravidão, em uma fazenda de sua propriedade, em Açailândia.

Em setembro de 2007, o Grupo de Fiscalização Móvel para Erradicação do Trabalho Escravo e Degradante diligenciaram às fazendas da região de Açailândia, para apurar denúncia de trabalho escravo, indo até a Fazenda Pôr do Sol, de propriedade de Baldochi.

Ao chegar no local, foram apontadas supostas irregularidades contra os trabalhadores, como falta de alojamento adequado; falta de EPI; falta de pagamento da remuneração.

Em seu depoimento, o juiz afirmou não existir qualquer irregularidade. Disse que os trabalhadores não eram empregados de sua propriedade e sim contratados para a realização de um serviço, o que, sempre segundo ele, é um costume no interior, onde é comum contratar sem as formalidades legais, pagando-se pelo serviço executado.

O processo teve como relator o desembargador Raimundo Melo, cujo voto foi para que o juiz fosse aposentado compulsoriamente, com vencimentos proporcionais. Ele ressaltou que Baldochi já havia sido condenado em outros processos administrativos por condutas incompatíveis com a Magistratura e “utilizou-se da necessidade primária do ser humano de manutenção da vida e de sua integridade para explorá-los, impondo-lhes uma situação degradante”.

Ao final do julgamento, porém, o voto de Melo foi vencido e a maioria dos desembargadores do TJ do Maranhão votou pela absolvição de Marcelo Baldochi.

Sete estabelecimentos do Maranhão estão na lista suja do trabalho escravo
Maranhão

Relação mostra que 69 trabalhadores no estado foram encontrados sendo submetidos a exercer atividades laborativas sob condições degradantes e desumanas

O governo federal publicou, na semana passada, a versão atualizada da chamada Lista Suja do Trabalho Escravo, como é conhecido o cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo.

Dos 204 empregadores em todo o Brasil incluídos na lista suja, sete são Maranhão, com 69 trabalhadores envolvidos.

A publicação é de responsabilidade da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), agora subordinada ao Ministério da Economia em razão da extinção do Ministério do Trabalho pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Segundo a relação, dos estabelecimentos no estado que submeteram os trabalhadores à situação análoga a escravidão, a maioria é fazenda. Elas estão localizadas nas cidades de Miranda do Norte, São Pedro da Água Branca, Vargem Grande, Arame, Brejo de Areia e Açailândia. A lista mostra que equipes de auditores fiscais do trabalho flagraram, também, trabalhadores submetidos a atividades laborativas sob condições degradantes e desumanas numa obra da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz.

Uma lei estadual promulgada em 2015, criada a partir de projeto apresentado pelo deputado Othelino Neto (PCdoB), pune qualquer empresa que faça uso direto ou indireto do regime de trabalho escravo ou condições análogas, com a cassação da inscrição no cadastro de contribuintes do ICMS (Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação).

A norma determina, ainda, que as empresas que se beneficiarem de mão-de-obra escrava sejam impedidas de exercerem o mesmo ramo de atuação ou de abrirem nova atividade econômica por dez anos.

Abaixo, a relação com os empregadores, estabelecimentos, localização e número de pessoas submetidas ao trabalho análogo ao de escravo, em cada:

Empregador: Alexandre Vieira Lins
Estabelecimento: Fazenda Sara
Localização: BR 135, km 122, Miranda do Norte
Trabalhadores: 4

Empregador: Antônio Calixto dos Santos
Estabelecimento: Fazenda Grapia
Localização: Estrada de acesso à ferrovia de Carajás, linhão da Eletronorte, São Pedro da Água Branca
Trabalhadores: 1

Empregador: Francisco José Aguiar Lopes
Estabelecimento: Carnaubal
Localização: Povoado Alto Bonito, zona rural, Vargem Grande
Trabalhadores: 19

Empregador: Humberto Melo Carneiro
Estabelecimento: Fazenda Rancho Rico
Localização: MA 008, km 30, zona rural, Arame
Trabalhadores: 5

Empregador: José Rodrigues dos Santos
Estabelecimento: Fazenda Lago Azul
Localização: Povoado Balanço, zona rural, Brejo de Areia
Trabalhadores: 22

Empregador: Sinval Batista dos Santos
Estabelecimento: Fazenda Serra Verde
Localização: BR 222, km 646, a 12 km da margem, zona rural, Açailândia
Trabalhadores: 1

Empregador: Zurc - Saneamento e Construções Ltda
Estabelecimento: Obra da UFMA
Localização: Avenida da Universidade, Bom Jesus, Imperatriz
Trabalhadores: 17

Rosa Weber suspende portaria de Temer sobre o trabalho escravo
Política

Em decisão liminar, ministra ataca com dureza do documento que muda normas para caracterizar o que é ou não uma atividade análoga à escravidão

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber concedeu, nesta terça-feira 24, liminar que suspende a portaria do governo Michel Temer que altera o conceito de trabalho análogo ao escravo, dificulta a fiscalização e traz novas regras para publicação da chamada lista suja. A decisão foi comemorada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que havia pedido, no último dia 17, a revogação do documento em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF).

Para o procurador-chefe do MPT no Maranhão, Luciano Aragão, a liminar foi acertada. “A decisão reconhece que a Portaria viola nossa Constituição, fere o Código Penal e contraria os tratados internacionais que o Brasil é signatário. Trata-se de total desrespeito aos fundamentos da República, como os princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho”, declarou.

A liminar atende à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) ajuizada pela Rede Sustentabilidade. Como a decisão tem caráter liminar, o mérito ainda será apreciado pelos demais ministros do Supremo. “Por medida de justiça e coerência e respeito à nossa Constituição, espero que a decisão seja confirmada pelo plenário do STF”, acrescentou Luciano Aragão.

Lista suja

Também nesta terça, a Justiça do Trabalho do Distrito Federal determinou a divulgação da lista suja do trabalho de escravo, uma relação dos empregadores que sujeitaram trabalhadores a condições análogas à da escravidão.

Proferida pelo juiz trabalhista Rubens Curado Silveira, sentença atendeu a um pedido apresentado pelo MPT, que questionava a falta de divulgação e atualização da lista.

A relação já havia divulgada com exclusividade no último 22, pelo programa Fantástico, da Rede Globo.

Dos 132 empregadores flagrados sujeitando trabalhadores a condições análogas à da escravidão, quatro são do Maranhão: os fazendeiros de Mirante do Norte, São Pedro da Água Branca e Brejo de Areia, pela ordem, Alexandre Vieira Lins, Antônio Calixto dos Santos, José Rodrigues dos Santos; e a empresa Zurc – Saneamento e Construções Ltda, responsável por execução de obra no campus Imperatriz da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Maranhão é o maior fornecedor de mão de obra escrava do Brasil
Maranhão

22,85% dos resgatados do país são maranhenses. A maioria nasceu no município de Codó

Levantamento do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Maranhão, com base no Observatório Digital de Trabalho Escravo (SMARTLAB MPT / OIT), revela que, de 2003 a 2017, mais de 8 mil maranhenses foram resgatados de situação análoga à escravidão em outros estados da federação. Esse dado coloca o Maranhão em primeiro lugar no ranking nacional de fornecimento de mão de obra escrava.

O estudo mostra que dos 43.428 resgatados em todo o país, 35.084 tiveram sua naturalidade identificada. Desse total, 22,85% afirmaram ter nascido no Maranhão (8.015 pessoas), o que garante uma média de um maranhense para cada cinco resgatados.

O município de Codó é o segundo maior fornecedor de mão de obra escrava do país, com 429 resgatados nascidos nessa cidade. O recordista é Amambai (MS), com 480 trabalhadores. Em terceiro lugar está São Paulo (SP), com 427 resgatados.

O balanço também constatou que o Maranhão lidera a estatística nacional de resgatados residentes. Nesse caso, 18,35% dos resgatados de condições semelhantes à escravidão declararam morar em território maranhense. Codó também figura entre os cinco municípios do país com maior número de residentes resgatados, com 356 trabalhadores.

Repressão insuficiente

Segundo a procuradora do Trabalho que coordena o combate ao trabalho escravo no MPT-MA, Virgínia de Azevedo Neves, a realidade que obriga os trabalhadores a deixarem suas comunidades em busca de emprego em outras localidades não mudou. “As pessoas continuam tendo que sair do Maranhão, pois não há oportunidades de emprego e renda para todos. Além disso, muitos resgatados de hoje voltam a ser vítimas do trabalho escravo amanhã”, diz.

Para Virgínia Neves, apenas a repressão não é suficiente para romper com esse ciclo. “O trabalho escravo é um problema social. Precisamos de ações coordenadas e políticas amplas, eficazes e fortes, que garantam a reinserção e a qualificação dos resgatados”, lembra ela.

Acordo inédito no país

Uma das estratégias para transformar essa realidade foi a assinatura, em maio deste ano, de um termo de ajuste de conduta (TAC), inédito no país, com o governo do Maranhão, que se comprometeu em criar o programa estadual de enfrentamento ao trabalho em condições análogas a de escravo. O acordo possui 19 cláusulas que devem ser cumpridas até o dia 1º de março de 2018.

“Com esse instrumento, que tem força de uma sentença judicial, o Estado se compromete a implementar políticas públicas de combate ao trabalho escravo, assegurando direitos fundamentais aos trabalhadores”, explica Virgínia.

O programa estadual prevê a política de mobilização, prevenção e reinserção social das vítimas da exploração, com ações articuladas nas áreas de educação, saúde, assistência social, trabalho, promoção de acesso à terra, qualificação profissional e emprego e renda.

Combate ao trabalho escravo no Maranhão

Atualmente, o MPT-MA conduz 52 investigações dentro da temática do trabalho escravo em todo o estado. O órgão possui 65 ações civis públicas ativas na Justiça do Trabalho e acompanha o cumprimento de 72 termos de ajuste de conduta, que foram assinados pelos exploradores de mão de obra escrava em território maranhense.

CPT Nacional emite nota pela exoneração de Camilo Figueiredo do governo Dino
Política

Escravista ganhou alto cargo na Casa Civil após pedir votos para o comunista no final da campanha de 2014

A Comissão da Pastoral da Terra Nacional emitiu nota, no último dia 6, contra a nomeação pelo governador Flávio Dino (PCdoB) do ex-deputado estadual Camilo Figueiredo, latifundiário de Codó e sócio de uma empresa agropecuária flagrada em trabalho análogo ao de escravo, no cargo de Assessor Especial de Apoio Institucional da Subsecretaria da Casa Civil. No início de fevereiro, a diocese de Coroatá já havia repudiado a nomeação de Figueiredo pelo comunista.

Camilo Figueiredo durante discurso, ao olhar atento do aliado e governador do Maranhão
Youtube O governador de todos... eles Camilo Figueiredo durante discurso, ao olhar atento do aliado e governador do Maranhão

A boquinha ao escravista foi uma resposta dos trabalhos que desenvolveu em companhia de seu pai, o também escravista Biné Figueiredo, em prol da eleição de Dino ao Palácio dos Leões, no final da eleição de 2014, como mostra a foto acima e ao lado, de uma caminhada pelas ruas de Codó.

Lançada durante a Campanha Nacional da CPT de Combate ao Trabalho Escravo, a nota afirma que, "vindo de outro qualquer político, essa notícia seria infelizmente mais uma triste confirmação da pouca consideração que parte das nossas elites continua tendo para com o compromisso nacional de erradicar o trabalho escravo, firmado em 2003 pelo Brasil", e questiona se, partindo de Dino, "com trajetória respeitada na militância contra o trabalho escravo, seria mais um governante a sacrificar princípios sagrados em nome da oportunista 'governabilidade' e da 'real politik'".

Em outro trecho, a CPT Nacional diz que, "salvo por complicada ginástica argumentativa, não é possível justificar, como tentou fazer a sua Secretaria de Comunicação Social [do governo Dino], a nomeação, para cargo de confiança, de um político envolvido na prática de trabalho escravo, como revelou o flagrante realizado em Codó, MA, na fazenda Bonfim, de sua propriedade – em sociedade, por meio da Líder Agropecuária", e que, "não pode ser aceito o hipócrita argumento apresentado pelo Governo maranhense de que Camilo Figueiredo foi nomeado 'após análise de todos os requisitos legais' (...).".

Para a Comissão Pastora da Terra, a nomeação de Camilo Figueiredo pelo governador Flávio Dino "contradiz frontalmente o engajamento explícito" que o comunista "assumiu ao assinar, em 30 de setembro de 2014, a Carta-Compromisso contra o trabalho escravo, proposta pela Conatrae a todos os candidatos a cargo de governo".

Abaixo a íntegra da nota pública da CPT Nacional, que alfineta e ao mesmo tempo apela para a religiosidade do governador do Maranhão, numa citação Bíblia que afirma que o homem deve ter palavra, e que "o resto é diabólico":

NOTA PÚBLICA - Não ao trabalho escravo! Que seu sim seja sim, que seu não seja não...

O Governador do Maranhão acaba de nomear como seu assessor especial na Casa Civil, Camilo Figueiredo, ex-deputado e sócio de empresa da família, flagrada em 2012 pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho, com trabalhadores em regime de escravidão. Em junho de 2013 a empresa - Líder Agropecuária - foi incluída na Lista Suja do trabalho escravo.

Vindo de outro qualquer político, essa notícia seria infelizmente mais uma triste confirmação da pouca consideração que parte das nossas elites continua tendo para com o compromisso nacional de erradicar o trabalho escravo, firmado em 2003 pelo Brasil.

Com trajetória respeitada na militância contra o trabalho escravo, o antigo representante da Associação dos Juízes Federais na CONATRAE, Flávio Dino, seria mais um governante a sacrificar princípios sagrados em nome da oportunista “governabilidade” e da “real politik”?

Salvo por complicada ginástica argumentativa, não é possível justificar, como tentou fazer a sua Secretaria de Comunicação Social, a nomeação, para cargo de confiança, de um político envolvido na prática de trabalho escravo, como revelou o flagrante realizado em Codó, MA, na fazenda Bonfim, de sua propriedade – em sociedade, por meio da Líder Agropecuária, empresa que, à época, constava da declaração de bens de Camilo Figueiredo, então deputado pelo PSD.

Hoje inserido na máquina do Governo maranhense como sempre foram seus pares, Camilo Figueiredo é mais um representante do latifúndio maranhense: grila terras, grila vidas.

Segundo a CPT local (Diocese de Coroatá), Figueiredo e sua família – seu pai foi prefeito de Codó – estão envolvidos “em diversos conflitos agrários na região dos Cocais, em especial na Comunidade quilombola de Puraquê, onde homens armados, inclusive com a presença de alguns policiais, tentaram expulsar dezenas de famílias”.

Segundo informação dos fiscais que resgataram da sua fazenda sete trabalhadores mantidos em condição análoga à de escravos, “a água consumida no local era a mesma que a utilizada pelos animais da fazenda. Retirada de uma lagoa suja, com girinos, ela era acondicionada em pequenos potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou filtragem. Os empregados tomavam banho nesta lagoa e, como não havia instalações sanitárias, utilizavam o mato como banheiro. Os trabalhadores resgatados cuidavam da limpeza do pasto e ficavam alojados em barracos feitos com palha, sem proteção lateral, e eram habitados por famílias inteiras, incluindo crianças. Em noites de chuva, as redes onde dormiam ficavam molhadas e todos sofriam com o frio”. Características típicas de condições degradantes que, no ordenamento legal brasileiro, trazem a qualificação jurídica de “condição análoga à de escravo”, de acordo com o artigo 149 do Código Penal: quando a pessoa é tratada como coisa, pior que animal.

Por este motivo, após um ano, tendo exercido seu direito ao contraditório, o nome do responsável por esta prática foi incluído no “Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores à condição análoga à de escravo”, conhecido como “Lista Suja do trabalho escravo”. Segundo a regra deste Cadastro, criado em 2003, o nome fica dois anos na Lista até poder ser retirado, tendo o empregador sanado os problemas, pago as pendências e não ter apresentado reincidência no crime.

A nomeação de Camilo Figueiredo contradiz frontalmente o engajamento explícito que o candidato Flávio Dino assumiu ao assinar, em 30 de setembro de 2014, a Carta-Compromisso contra o trabalho escravo, proposta pela CONATRAE a todos os candidatos a cargo de governo. A mesma estipulava, in fine: “Garanto que será prontamente exonerada qualquer pessoa que ocupe cargo público de confiança sob minha responsabilidade que vier a se beneficiar desse tipo de mão de obra.” A inclusão do nome da Líder Agropecuária na Lista Suja constitui indicativo suficiente de que Camilo Figueiredo se beneficiou desse tipo de prática. E sua nomeação em conhecimento de causa é claro sinal de ruptura do compromisso.

Não pode ser aceito o hipócrita argumento apresentado pelo Governo maranhense de que “Camilo Figueiredo foi nomeado ‘após análise de todos os requisitos legais’ (...). Não foi verificado qualquer impedimento previsto em lei. [Pelo fato do servidor não constar em nenhuma lista de trabalho escravo], é impossível a seus superiores hierárquicos aplicar sanções com base em fatos ainda sem existência jurídica''. É notório que, desde o dia 27 de dezembro de 2014, pela decisão liminar tomada monocraticamente pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, em pleno recesso do Judiciário e em pronto atendimento à demanda de um lobby de construtoras, a ABRAINC, a Lista Suja adquiriu status de invisibilidade, sendo suspensa a sua publicação, no aguardo ainda da apreciação do caso pelo pleno do STF. Os autos da fiscalização, porém, não deixaram de existir, nem a lista no seu funesto esconderijo, mantendo aos fatos apurados a mesma qualificação legal. Além do mais, com base na Lei de Acesso à Informação, todo cidadão tem a possibilidade legal de conhecer o nome dos empregadores fiscalizados pelo Ministério do Trabalho e autuados por trabalho escravo. Basta solicitar.

Nessa altura, só não vê quem não quer ver.

A exemplo do BNDES e da Caixa Econômica, que já franquearam financiamento aos incluídos na última lista suja conhecida (a de junho de 2014, com mais de 600 nomes), o Governo do Maranhão já estaria tomando como caso encerrado a supressão da Lista Suja, sem nem esperar a deliberação do STF nem consultar o Ministério do Trabalho e Emprego a respeito? E Flávio Dino estaria disposto a ratificar assim o desmantelamento programado da política nacional de erradicação do trabalho escravo após 20 anos de corajosa construção?

Governador, não perca a oportunidade de, revendo a decisão questionada, manifestar sua determinação política de defender e promover a política nacional de erradicação do trabalho escravo hoje atacada em várias frentes.

Governador, que seu sim seja sim e que seu não seja não. O resto é diabólico. (Mt, 5, 37)

Campanha Nacional da CPT contra o Trabalho Escravo

Goiânia, 06 de março de 2015.

Flávio Dino descumpre compromisso contra trabalho escravo feito à Conatrae
Política

Governador do Maranhão é o primeiro eleito a descumprir carta-compromisso de combate a esse tipo de crime contra a humanidade

Poucos dias depois de completar apenas dois meses no comando do Palácio dos Leões, o governador Flávio Dino (PCdoB) descumpriu uma das suas principais promessas de campanha, feita diretamente ao principal órgão nacional de combate ao trabalho escravo no país, a Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) - da qual o comunista fez parte como conselheiro, quando juiz federal -, e abrigou nos cofres do estado, com um dos salários mais altos da administração pública, o ex-deputado estadual Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo, o Camilo Figueiredo (PR), um dos maiores escravista do município de Codó, tendo inclusive seu nome incluído na ficha suja do trabalho escravo e infantil, em outubro passado.

Cópia da carta-compromisso que Flávio Dino assinou, mas não cumpriu
Repórter Brasil Governo de Todos... os EscravistasCópia da carta-compromisso que Flávio Dino assinou, mas não cumpriu

A nomeação de Camilo Figueiredo para o cargo de Assessor Especial de Apoio Institucional da Subsecretaria da Casa Civil, onde não compareceu até hoje para trabalhar ou sequer bater o ponto, foi assinado por Flávio Dino no dia 11 de fevereiro, e publicada no Diário Oficial do Estado no dia 20 do mesmo mês.

Em Carta-Compromisso endossada pelo comunista no dia 30 de setembro do ano passado, em vez da boquinha dada ao ex-parlamentar, a promessa feita à Conatrae e à Ong Repórter Brasil era completamente contrária: seria prontamente exonerada qualquer pessoa que, ocupando cargo público de confiança sob sua responsabilidade, viesse a se beneficiar desse tipo de mão de obra. Dino é o primeiro eleito, desde que o documento foi elaborado pela Conatrae, no pleito de 2006, a descumprir com o prometido.

- Por fim, asseguro que renunciarei ao meu mandato se for encontrado trabalho escravo sob minha responsabilidade ou se ficar comprovado que alguma vez já utilizei desse expediente no trato com meus empregados. Além disto, garanto que será prontamente exonerada qualquer pessoa que ocupe cargo público de confiança sob minha responsabilidade que vier a se beneficiar desse tipo de mão de obra - prometeu o  governador do Maranhão.

Em março de 2012, Camilo Figueiredo foi flagrado pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) do Maranhão, pelo Ministério Público do Trabalho e pela Polícia Federal escravizando adultos e crianças em uma de suas propriedades, a Fazenda Bonfim, localizada na zona rural do município e pertencente à Líder Agropecuária Ltda.

Assinatura do governador do Maranhão na carta-compromisso feita perante a Conatrae
Repórter Brasil Não vale nada Assinatura do governador do Maranhão na carta-compromisso feita perante a Conatrae

Por submeter os trabalhadores e os filhos destes à condições análogas às de escravos, o novo comissionado do governo Dino - que há pouco tempo respondeu ainda a grave acusação de estupro e exploração de duas adolescentes - teve seu nome incluído no cadastro de empregadores flagrados com mão de obra escrava e infantil, conhecido como a “lista suja”, instrumento mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), que tem sido um dos mais importantes mecanismos de combate a esse crime.

CPT repudia sinecura

Em nota publicada na última sexta-feira (27), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) da diocese de Coroatá repudiou publicamente a nomeação de Camilo Figueiredo pelo comunista.

Na nota, a CPT lembrou que o ex-deputado, um dos latifundiários de Codó, é envolvido em diversos conflitos agrários na região dos Cocais, em especial na Comunidade quilombola de Puraquê, onde homens armados, inclusive com a presença de alguns policiais, tentaram expulsar dezenas de famílias.

- A nomeação do escravocrata Camilo Figueiredo pelo governador Flávio Dino indica com clareza o caráter de seu governo: autoritário, conservador, amparado em estruturas oligárquicas, cujos agentes políticos são envolvidos em práticas criminosas, em especial crime contra a humanidade, conforme afirmou o Papa Francisco em seus comentários sobre a escravidão moderna - diz ainda um dos trechos.

Dinheiro sujo

Não é a primeira vez que o governador do Maranhão tem envolvimento com escravistas. Em 2010, Dino foi bancado em meio milhão de reais oriundos da empresa Alcança Destilaria de Nanuque, cujo controlador é um grupo denunciado por explorar trabalhadores como escravos. O comunista nunca explicou que tipo de relação manteve com o grupo para merecer tal dinheiro.

Em 2014, durante as eleições, Flávio Dino voltou a receber dinheiro sujo, desta vez da gigante OAS, empresa multinacional do ramo da construção civil, que doou próximo de R$ 5 milhões à sua campanha rumo aos Leões, segundo prestação de contas do próprio governador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Flávio Dino nomeia escravista em alto cargo na Casa Civil
Política

Segundo o MPT e a PF, crianças pequenas eram obrigadas a beber a mesma água servida ao gado na fazenda de Camilo Figueiredo

Água utilizada pelo gado servia para os trabalhadores e para as crianças beberem e tomar banho
SRTE/MA Desumano Água utilizada pelo gado servia para os trabalhadores e para as crianças beberem e tomar banho

Duas semanas antes da Assembleia Legislativa do Maranhão derrubar o veto total da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) ao Projeto de Lei que pune qualquer empresa que faça uso direto ou indireto do regime de trabalho escravo ou condições análogas, o governador Flávio Dino (PCdoB) nomeou para o cargo de Assessor Especial de Apoio Institucional da Subsecretaria da Casa Civil, de simbologia Isolado, uma das mais bem remuneradas do estado, o ex-deputado Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo (PR), um dos maiores escravista do município de Codó, tendo inclusive seu nome incluído na ficha suja do trabalho escravo e infantil, em outubro passado.

O novo assessor especial da Casa Civil foi flagrado, em março de 2012, escravizando adultos e crianças em uma de suas propriedades, a Fazenda Bonfim, localizada na zona rural do município e pertencente à Líder Agropecuária Ltda, empresa da oligarquia Figueiredo.

Na época, o flagrante ganhou repercussão nacional, após ser divulgado pela Ong Repórter Brasil, uma das mais importantes fontes de informação sobre trabalho escravo no país, e ano passado novamente, pela Ong Transparência Brasil, que atua desde 2000 contra a corrupção em todo o Brasil.

Barracos de palha serviam de alojamento para os trabalhadores
SRTE/MA Como animais Barracos de palha serviam de alojamento para os trabalhadores

De acordo com a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) do Maranhão, o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal, que libertaram sete pessoas em condições análogas às de escravos na fazenda de Camilo Figueiredo, a água consumida no local pelos adultos e crianças pequenas resgatados era a mesma que a utilizada pelos animais da propriedade. Retirada de uma lagoa imunda, repleta de girinos e onde os empregados tomaram banho, ela era acondicionada em pequenos potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou filtragem. Como não havia instalações sanitárias, os resgatados eram obrigados ainda a utilizar o mato como banheiro.

Repartida em sociedade os outros integrantes do clã, Rogério Carneiro Figueiredo, Rodrigo De Lellis Salem Figueiredo e Camilo De Lellis Carneiro Figueiredo Filho, a propriedade era utilizada para criação de gado para corte. Os trabalhadores resgatados cuidavam da limpeza do pasto com a retirada de ervas daninhas e arbustos, atividade conhecida como roço da juquira, e ficavam alojados em barracos feitos com palha. Os abrigos não tinham sequer proteção lateral, apesar de serem habitados por famílias inteiras, incluindo crianças.

Os resgatados, que não tinham Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) assinada e não contavam com nenhum equipamento de proteção individual no roço da juquira, declararam às autoridades que, em noites de chuva, as redes onde dormiam ficavam molhadas e que todos sofriam com o frio.

Além de submeter adultos e crianças à condições degradantes, pesa ainda contra Camilo Figueiredo a grave acusação de estupro e exploração de duas adolescentes. Mais nada que tenha manchado sua reputação e índole junto ao governador do Maranhão.

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Blog do Gilberto Léda Escravista no governo Sem mandato, Camilo Figueiredo ganhou uma boquinha no governo estadual, dada pelo próprio governador Flávio Dino