Roberto Larrat
Pedrinhas: Motim na PP, fuga na Cadet e túnel no CDP marcam o fim de semana
Maranhão

Sejap divulgou nota apenas sobre ocorrência do motim, ocorrido no sábado (25). Detento conseguiu fugir pulando o muro da frente

Ficha de identificação do detento que conseguiu fugir de Pedrinhas pulando o muro da frente
Atual7 Pelas ruas Ficha de identificação do detento que conseguiu fugir de Pedrinhas pulando o muro da frente

Apesar do governo estadual ter escondido da população a maioria das ocorrências, o clima no Complexo Penitenciário de Pedrinhas durante o fim de semana não foi um dos melhores, e voltou a expor a fragilidade do Sistema Prisional do Maranhão.

No sábado (25), na unidade Penitenciária de Pedrinhas (PP), um grupo de detentos lançou pedras em uma equipe de agentes do Geop (Grupo Especial de Operações Prisionais) que faz a segurança interna do local. No comando da cadeia por quase uma hora, os detentos ainda quebraram as lâmpadas e câmeras de segurança do pavilhão, além dos holofotes da quadra.

O tumulto aconteceu no bloco F2 e, diferente do que divulgou em nota a Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap), controlada pelo forasteiro Murilo Andrade, o tumulto demorou a ser controlado.

Ainda no sábado, enquanto a Geop era apedrejada pelos presos da PP, um detento da Casa de Detenção (Cadet), identificado pelo Atual7 em acesso exclusivo a documentos internos como Raimundo Francisco Cantanhede, o Del, fugiu de Pedrinhas escalando e pulando o muro frontal.

Até a publicação desta matéria, a Inteligência da Sejap, comandada pelo delegado Roberto Larrat, ainda não tinha informações como Del conseguiu fugir sem ser notado e nem do seu paradeiro.

Já no domingo (26), agentes penitenciários descobriam um túnel no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pedrinhas, o famoso 'Cadeião'.

Para quem não se recorda, a unidade é a mesma onde, há cerca de uma semana, houve uma tentativa de homicídio de um preso, que chegou a ser espancado por pelo menos 10 outros detentos, e de onde foram resgatados, no início de maio deste ano, quatro presos do Primeiro Comando do Maranhão (PCM), em ação cinematográfica que contou com uma escada e uma corda levada pelo bando que, armado de fuzis AK 47 e 556, crivou de bala as guaritas de segurança do maior presídio maranhense.

Canibalismo no Complexo de Pedrinhas é investigado pela Polícia Civil desde 2013
Política

Roberto Larrat e Augusto Barros foram comunicados pelo ex-titular da Sejap sobre suposta ação praticada por membros da facção Anjos da Morte

O governador Flávio Dino (PCdoB) deu uma nova mancada nas redes sociais, no último sábado (18), na ânsia de querer surfar e se aparecer na onda da reportagem sensacionalista da Revista Época sobre denúncias de suspostos casos de canibalismo no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, que teriam se iniciado no dia 1º de abril de 2013 e se repetido em 8 de agosto de 2014, por membros da facção criminosa Anjos da Morte, a ADM.

Ronalton Silva Rabelo, 32, desapareceu no dia 1º de abril de 2013
Divulgação Suposta vítima de canibalismo Ronalton Silva Rabelo, 32, desapareceu no dia 1º de abril de 2013

Segundo declarou Dino no microblogging, "a denúncia da revista Época de que, no governo passado, em 2013 e 2014, houve canibalismo em Pedrinhas, será investigada pela Polícia Civil".

Ocorre que as duas denúncias feitas à CPI do Sistema Carcerário pelo servidor César Castro Lopes, o César Bombeiro, e outro agente penitenciário - sabidos desafetos do então titular da Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap), delegado Sebastião Uchôa - já estão sob investigação da Superintendência de Investigações Criminais (Seic), há mais de dois anos a primeira e mais de um ano a segunda denúncia, sendo de conhecimento, inclusive, do delegado-geral Augusto Barros, então titular da Seic; e do comandante da Inteligência da Sejap, delegado Roberto Larrat, então responsável pelas investigações dos sumiços dos detentos Ronalton Rabelo, de 33 anos, e Rafael Libório, de 23 anos.

Portaria de Investigação Preliminar mostra que denúncia de ocultação e suposto canibalismo não foi abafada
Atual7 Época, Mendonça e Dino mentiram Portaria de Investigação Preliminar mostra que denúncia de ocultação e suposto canibalismo não foi abafada

Longe de ser uma revelação das atrocidades cometidas até os dias atuais em Pedrinhas, como passou Época em sua reportagem de sexta-feira (17), as denúncias de canibalismo já haviam ganhado repercussão nacional desde os primeiros dias de 2014, ano eleitoral, emplacadas em reportagens do Uol, Folha, Estadão e até do Instituto Paulista de Estudos Bióticos e Jurídicos (IPEBJ), inclusive com amplo destaque para as respostas das pelo ex-titular da Sejap, que - diferente do que informa Época e o próprio governador do Maranhão - nunca abafou os supostos casos, e ainda contribuiu com as investigações da Polícia Civil.

Documentos obtidos com exclusividade pelo Atual7 também mostram que Época mentiu.

Com data do dia 5 de abril de 2013, uma Portaria de Investigação Preliminar, assinada pelo delegado Larrat, mostra que a Polícia Civil já havia sido informada do desaparecimento do detendo Ronalton Rabelo, inclusive da denúncia da execução, esquartejamento e ocultação do corpo no lixo.

Em outro documento, o Ofício n.º 233/2013, assinado por Uchôa e endereçado a então delegada-geral da Polícia Civil, Maria Cristina Resende, o ex-titular da Sejap informa sobre a remessa de uma serie de documentos à equipe de delegados responsável pela investigação do caso. Demostrando que não pretendia abafar o suposto canibalismo, o ex-titular da Sejap cita a "necessidade de não se fazer juntada dos mesmos no bojo do Inquérito Policial em andamento, mas também de forma criteriosa investigarem os crimes de homicídios ocorridos nas dependências do Presídio São Luís 2".

Ofício encaminhado ao delegado Augusto Barros mostra que denúncia de ocultação e suposto canibalismo não foi abafada por Sebastião Uchôa
Atual7 Entrevista de César Bombeiro Ofício encaminhado ao delegado Augusto Barros mostra que denúncia de ocultação e suposto canibalismo não foi abafada por Sebastião Uchôa

Um outro ofício, endereçado ao delegado Augusto Barros, derruba ainda mais a falsa informação de que não houve abertura de inquérito sobre o caso de canibalismo.

Recebido na Seic no dia 26 de maio de 2013, o documento descreve sobre um conteúdo em mídia removível contendo uma entrevista dos dois denunciantes - que já não pertencem mais aos quadros da SSP-MA, muito menos ao Serviço de inteligência da Sejap - ao programa Abrindo o Verbo, da rádio Mirante AM.

A entrega do ofício, diz trecho do documento, foi de ordem do delegado Sebastião Uchôa, "para fim de proceder junto aos autos de apura o desaparecimento do preso Ronalton Rabelo", suposta vítima de canibalismo por membros da facção Anjos da Morte.

Além do Inquérito Policial aberto para apurar o ocorrido com o detento Ronalton Rabelo, Relatório de Inteligência da Sejap, datado no dia 13 de agosto do ano passado, mostra também que a Polícia Civil do Maranhão, especificamente os delegados Roberto Larrat e Augusto Barros, tomaram conhecimento do desaparecimento, homicídio e ocultado de cadáver do outro detento desaparecido, Rafael Libório, também suposta vítima de canibalismo pelo ADM, no Presídio São Luís 1.

SSP e Sejap permitiram que resgatados usassem celular no Complexo de Pedrinhas
Política

Relatório do CPE revela que detentos repassavam informações do CDP para os criminosos em tempo real

O relatório do Comando de Policiamento Especializado (CPE), vazado um dia depois do resgate cinematográfico de quatro presos do Centro de Detenção Provisória (CDP) do Complexo Penitenciária de Pedrinhas, mostra que a Inteligência da Secretária de Segurança Pública (SSP) do Maranhão e da Secretária de Justiça e Administração Penitenciária sabia e permitiu que os detentos conversassem com os criminosos por celular.

Relatório do CPE do Choque revela que detentos ainda continuam se comunicando por celular com quem está do lado de fora de Pedrinhas
Atual7 Facilidade Relatório do CPE do Choque revela que detentos ainda continuam se comunicando por celular com quem está do lado de fora de Pedrinhas

O documento chamado de “Operação Pedrinhas” relata em ordem cronológica os detalhes da ação realizada pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, pelo menos duas horas antes do ataque ao CDP de Pedrinhas, e revela que, como já acontecia no governo da peemedebista Roseana Sarney, adversária de Dino, os detentos continuam tendo acesso livre a aparelhos celular - que estranhamente funcionam perfeitamente dentro do complexo penitenciário.

Em um trecho, o relatório mostra que às 2h44 o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) alertou que os presos resgatados estavam se comunicando com o bando em tempo real, de dentro da unidade prisional, sobre o plano montado pelo Batalhão de Choque, inclusive informando a localização exata do posicionamento das três viaturas da guarnição.

"Por volta das 2:44h da madrugada do dia 05/04/2015, a guarnição da Choque 14 se encontrava ao lado do CDP, quando recebeu a ligação do CPU do Choque, onde o mesmo informou que as guarnições ficassem com atenção redobrada, e que se posicionassem em um lugar mais seguro, pois segundo informações passadas pelo CIOPS, teriam informantes de dentro do CDP, comunicando em tempo real a seus comparsas do lado de fora a posição exata das viaturas", diz o trecho.

Quatorze minutos depois, ainda conforme o relatório, o bate-cabeça da SSP e da Sejap não conseguiu evitar o ataque. Conforme revelou o Atual7 na última quinta-feira (9), o delegado de Polícia Civil Roberto Larrat, comandante da Inteligência da Sejap, arregou na missão, deixando apenas uma viatura escondida no local para combater os criminosos, o que acabou facilitando o resgate dos detentos Adeilton Alves Nunes, Ilton Carlos Martins, John Lennon da Silva Lima e John Carlos Campos Silva.

Um outro detalhe que também chama atenção no resgate em Pedrinhas é que todos os quatro presos já estavam do lado de fora da cela no momento do resgate, com a grade já cerrada - provavelmente - há dias.

Sem segurança

A incompetência da SSP e da Sejap para dificultar que detentos escapem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas tem sido motivo de piada e vergonha nacional.

No dia 22 de março, quatro detentos fugiram com facilidade do Presídio São Luís 2. Sem rádio e sem arma, um vigilante de uma das guaritas foi obrigado a avisar a ocorrência da fuga em meio a berros.

Um dos fugitivos, que tropeçou e se feriu ao cair em trilhos que ficam atrás do complexo penitenciário, chegou a ser levado por um dos comparsas de "macaquinho".

Política

Comandante da Inteligência da Sejap afrouxou na missão ao saber que criminosos invadiriam Pedrinhas atirando contra os policiais com fuzis AK 47 e 556

Partiu do delegado de Polícia Civil Roberto Larrat, comandante da Inteligência da Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap), a ordem para que homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Maranhão se retirassem das proximidades do Complexo Penitenciário de Pedrinhas na madrugada do Domingo de Páscoa (5), quando oito bandidos fortemente armados resgataram quatro presos do Primeiro Comando do Maranhão (PCM) - ramificação da facção que age nas unidades prisionais de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) - do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pedrinhas.

Comandante da Inteligência da Sejap, Larrat teve medo do Choque bater de frente com os criminosos
Divulgação/Ciops Afrouxou Comandante da Inteligência da Sejap, Larrat teve medo do Choque bater de frente com os criminosos

Larrat era o responsável por receber as informações repassadas pela Inteligência da PM do Piauí, que monitorou os bandidos em Teresina por 15 dias e repassou a informação do plano de resgate dos presos à Secretária de Segurança Pública (SSP) do Maranhão.

No decorrer da Operação Pedrinhas, ao ser informado do registro de um Boletim de Ocorrência no município de Chapadinha, onde a vítima relatou que teve uma S-10 tomada pelo bando e ouviu que os criminosos pretendiam invadir um dos presídios de Pedrinhas atirando de fuzis AK 47 e 556 contra os policiais - como de fato aconteceu - , o delegado afrouxou na missão e, além de não descrever as características da caminhonete roubada e de outros dois veículos que os criminosos utilizavam na ação, determinou que o coordenador do Ciops retirasse as pressas as três viaturas do local e evitassem o confronto, por medo de que o alto poder de fogo dos criminosos acabasse vitimando toda a tropa e destruísse as viaturas.

Posicionando-se atrás de contêineres e pesos de guindastes que ofereciam segurança e visibilidade da BR e do CPD, somente uma das guarnições do Choque conseguiu chegar a tempo no local e ainda trocar tiros com os bandidos no momento da fuga, mas como os policiais estavam distantes da viatura e da baixa em duas guarnições pelo ordem de deslocamento dada por Larrat, quatro detentos foram resgatados de Pedrinhas por meio de uma escada e uma corda.

Erro operacional

A determinação de Roberto Larrat em retirar os homens do Choque das proximidades de Pedrinhas se deu por falta de entrosamento com os comandos da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) e do Grupo Especial de Operações Penitenciárias (Geop), que também sabiam do plano de resgate e chegaram a posicionar homens na área interna dos presídios do complexo penitenciário em sistema de reversamento, mas os retirou pouco tempo depois, sem informar à Larrat.

O medo do vazamento de informações também foi outro motivo que acabou contribuindo para a "falha operacional" da SSP em prender os criminosos e impedir o resgate.

Por determinação de Jefferson Portela, nenhum dos homens escalados para confrontar os bandidos sabia de fato o que estava acontecendo, sendo apenas vendidos na ação, sem qualquer informação sobre o plano de resgate dos presos em Pedrinhas - com exceção de quando os bandidos já estavam em Chapadinha -, e por isso acabaram sendo surpreendidos.