Ricardo Pessoa
Dono da UTC aponta que doação para Flávio Dino foi para obter “vantagem”
Política

Ricardo Pessoa declarou que as doações da empresa são "feitas para que se obtenha uma vantagem, seja ele devida ou indevida, seja para que partido for"

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, na segunda-feira 9, realizado na 13ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Curitiba, o dono da UTC e delator da Lava Jato, Ricardo Pessoa - apontado pela Polícia Federal como coordenador do “clube” de empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás -, afirmou que as doações da empresa durante as campanhas eleitorais não tinham relação com a propina paga no esquema de corrupção na estatal, mas não negou que serviam para "abrir portas".

— Na época de campanha, as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina. Eram contribuições de campanha mesmo, e o restante não, era como se pagava a comissão da propina da Petrobras – afirmou o empreiteiro, que já havia admitido que as doações eleitorais da empresa para políticos são "feitas para que se obtenha uma vantagem, seja ele devida ou indevida, seja para que partido for".

A declaração, mantida sob sigilo, complica mais ainda o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), um dos 19 políticos beneficiados pela empresa nas eleições de 2014. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comunista recebeu no ano passado 300 mil reais da UTC Engenharia. Foram dois depósitos: um de R$ 200 mil, no dia 15 de setembro; e outro de R$ 100 mil, uma semana depois. Pelo depoimento de Ricardo Pessoa à Moro, dá-se a entender que o dinheiro repassado teve como objetivo a obtenção de vantagens no governo do Maranhão.

Esta não é a primeira vez que o dono da empreiteira coloca Dino no olho da Lava Jato.

Em depoimentos anteriores, Pessoa já havia afirmado que “costumava atrasar os pagamentos de propina porque sabia que, na época das eleições, iria ser demandado novamente a fazer novos pagamentos”, e que o valor de 54 milhões de reais doados na campanha de 2014 era bem maior que o registrado em anos anteriores, devido a “estratégia da UTC em ampliar sua área de relacionamento, visando o aumento do volume de negócios da empresa”.

— O aumento das doações políticas (...) propicia a abertura de portas para que você tenha legitimidade para propor e discutir oportunidades de negócios — disse Pessoa, na ocasião.

A veracidade da tese do presidente da UTC, que voltou a trabalhar em sua empresa usando tornozeleira eletrônica desde quando assinou um acordo de colaboração - e deve prestar novo depoimento próximo dia 20 de novembro -, ainda deverá ser confirmada pela força-tarefa da Lava Jato que atua em Brasília, responsável por apurar eventual vínculo entre as doações com atos de corrupção na Petrobras, conforme acredita a PF.

Além da UTC Engenharia, o governador do Maranhão também foi beneficiado pela empresa Construtora OAS, outra investigada e denunciada na Lava Jato. O montante, neste caso, é quase o dobro do recebido pelo comunista da UTC.

Dados do sistema de prestação de contas Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que, diretamente ao comitê financeiro do candidato, foram repassados 1.157 milhão de reais, divididos em depósitos que vão de 7,5 mil reais a 580 mil reais, entre os dias 10 de julho e 21 de agosto do ano passado.

CPI da Petrobras: Eliziane evita perguntar sobre doação da UTC a Flávio Dino
Política

Governador do Maranhão foi um dos candidatos em 2014 beneficiados pela empreiteira envolvida na Lava Jato

A deputada federal Eliziane Gama (PPS-MA) deixou o governador Flávio Dino (PCdoB), na tarde desta terça-feira 15, por assim dizer no popular, com o coração na mão.

Governador do Maranhão pode ter sido beneficiado com dinheiro da corrupção da Petrobras na eleição de 2014
Divulgação Suspeito Governador do Maranhão pode ter sido beneficiado com dinheiro da corrupção da Petrobras na eleição de 2014

Explica-se:

O dono da empresa UTC, Ricardo Pessoa, que delatou ter repassado pelo menos 62 milhões de reais em propina para irrigar de maneira travestida de legalidade campanhas de mais de uma dezena candidatos de sete partidos, incluindo legendas oposicionistas e da base de sustentação do governo, prestou depoimento nesta terça-feira 15 na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, da qual Gama faz parte.

Durante as oitivas com Pessoa, a deputada federal se inscreveu para fazer perguntas ao empreiteiro, sendo inclusive instigada pelo Atual7, via Twitter, para que o questionasse a respeito da doação feita ao governador do Maranhão na campanha eleitoral de 2014, quando a UTC beneficiou Flávio Dino com 300 mil reais, divididos em dois cheques, um de 200 mil reais e outro de 100 mil reais, depositados na conta da direção estadual do PCdoB, que repassou o dinheiro suspeito à campanha de Dino.

Apesar da importância do questionamento, já que tanto o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, como a própria Polícia Federal afirmaram que as doações das empresas da Lava Jato declaradas à Justiça Eleitoral podem ser pagamento de propina, Eliziane Gama protegeu o comunista, e evitou a pergunta, limitando-se a querer saber apenas se Fernando Pessoa toparia uma acareação com o ministro-Chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante e, havendo, como teria sido a participação da presidente Dilma e do ex-presidente Lula no esquema.

Segundo investigações da PF, o dono da UTC é considerado o líder do cartel de construtoras que combinava resultados de licitações na Petrobras mediante pagamento de propina a políticos. Ele colabora com as investigações por meio de um acordo de delação premiada, cujo conteúdo ainda é mantido em sigilo pela Justiça.

Por causa desse sigilo, suspeita-se ainda que o governador Flávio Dino esteja sendo protegido pelo procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, em conluio com o subprocurador Nicolao Dino, braço direito e esquerdo de Janot e irmão do comunista.

Dono da UTC confirma participações de Roseana e Lobão em esquema de propinagem
Política

Dupla maranhense já é investigada em inquéritos no STF por terem nomes citados em delação premiada da Lava Jato

O dono da Construtora UTC, Ricardo Pessoa, apontado pela Polícia Federal como chefe do chamado “Clube do Milhão”, confirmou em delação premiada as participações do senador Edison Lobão e da ex-governadora Roseana Sarney, ambos do PMDB, no esquema de propinagem da Petrobras. A informação é de O Globo.

Além da dupla maranhense, que já é investigada em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) também por serem citados em delação premiada da Operação Lava Jato, Pessoa teria detalhado à Justiça outros pagamentos envolvendo parlamentares do PMDB.

O dono da UTC - uma das maiores doadoras de campanha do governador Flávio Dino em 2014 - esteve preso em Curitiba e aderiu à delação premiada após ser transferido para prisão domiciliar, em acordo com a Procuradoria Geral da República, no âmbito das investigações em curso no STF, por conta das citações a autoridades com foro privilegiado, como é o caso do senador Lobão.