Litucera Engenharia e Limpeza
Esquema que levaria Ricardo Murad à prisão pelo Tocantins desviou mais de R$ 4 bilhões
Política

Investigações apontam que as empresas Litucera e Farma atuaram nos dois estados por meio de fraude em licitações

Uma investigação feita pela auditoria do Sistema Único de Saúde (SUS) e pelo Ministério Público Federal (MPF) na saúde pública do Tocantins pode ter desvendado o esquema que supostamente levaria o ex-secretário de Saúde do Maranhão, Ricardo Murad, para a cadeia.

A possibilidade de prisão foi revelada pelo próprio Murad, por meio do Facebook, no dia 11 de agosto do ano passado. Prestes a ser alvo de outra operação da Polícia Federal contra o escamoteio de dinheiro público, a Sermão aos Peixes, o ex-secretário de Saúde usou a rede social para alardear que a PF – sob suposta articulação do governador Flávio Dino (PCdoB) e de seu irmão, o subprocurador-geral da República, Nicolao Dino – estaria prestes a deflagrar uma operação para prendê-lo juntamente com mais outras 13 pessoas, dentre funcionários e empresários de prestadores de serviços da Secretaria de Saúde do Maranhão, durante a sua gestão.

Na publicação, Murad chegou a citar, inclusive, o nome de uma das duas empresas que atuaram durante sua gestão e que serviu, segundo a Polícia Federal, para lavagem de dinheiro tanto na saúde pública do Maranhão como do Tocantins: a Litucera Engenharia e Limpeza, que operava nos dois estados na limpeza, alimentação e outros serviços hospitalares. A outra empresa, de fachada, é a Farma Produtos Hospitalares, criada exclusivamente para receber os recursos da saúde pública por meio de pagamentos pela venda de produtos fictícios.

Ao todo, no Tocantins, segundo constatado pelo MPF após uma investigação mais detalhada, o valor do desvio da verba pública chega a mais de R$ 4 bilhões – R$ 2 bilhões a mais do que o desviado no Maranhão –, e teria ocorrido durante o governo de Siqueira Campos, entre 2012 e 2014. Ele nega.

Um fato curioso, e que confirma o conhecimento de Ricardo Murad sobre a rede de corrupção que atuou na saúde pública do Tocantins, é que o esquema funcionava nos mesmos moldes do desarticulado pela Sermão aos Peixes, inclusive com o mesmo número de empresas que Murad citou em sua publicação na rede social.

Apesar de terem sido duas empresas a atuarem no mesmo tipo de esquema, segundo fontes do Atual7, o receio do ex-secretário de Saúde do Maranhão com um pedido de prisão se deu principalmente pelo envolvimento da Litucera. Murad temia que, num possível pedido de prisão dos proprietários da empresa durante a operação no Tocantins, a Polícia Federal incluísse o Maranhão numa megaoperação, o que culminaria em sua prisão.

No Maranhão, a Litucera recebeu R$ 15,8 milhões durante a gestão de Ricardo Murad na Saúde. No Tocantins, o valor foi maior, chegando a R$ 130 milhões, sendo que, segundo as investigações, R$ 54 milhões foram pagos de forma irregular, com notas duplicadas e triplicadas. Outros problemas também foram encontrados no contrato para oferta de roupas, macas e lavagens. A empresa nega qualquer favorecimento em licitações nas duas gestões. O ex-secretário do Maranhão foi procurado pelo Atual7, por meio de seu telefone celular, mas não foi encontrado.

As outras empresas que, de acordo com a denúncia do MPF apresentada à Justiça Federal, foram beneficiadas no esquema do Tocantins são a Biogem, Dosemed, Hospitalia, Hospivida, Máxima, Neostok, Profarm, Promtins, Stock, Utildrogas e RG Comercial.

Ricardo Murad relata mega operação da PF para prendê-lo com mais 13 pessoas
Política

Além do ex-secretário de Saúde, dirigentes da ICN e Bem Viver, além das empresas Litucera e Lavatech, também seriam alvos da operação

O ex-secretário de Saúde do Maranhão, Ricardo Murad, cunhado da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), relatou no final da noite dessa terça-feira 11, em nota pública, ter tomado conhecimento, por fontes graduadas do Palácio dos Leões, de uma mega operação da Polícia Federal na iminência de ser deflagrada com o objetivo de prendê-lo juntamento com outros 13 dirigentes de empresas que prestaram serviços para a SES durante a sua gestão.

Citando alguns nomes, além das prisões, cujo alvos principais, além dele próprio, seriam os dirigentes da Organização Social (OS) Instituto Cidadania e Natureza (ICN) e da Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Associação Tocantina para o Desenvolvimento da Saúde - Bem Viver, a PF também deve realizar a qualquer momento, segundo Murad, mandados de busca e apreensão nas empresas Litucera Engenharia e Limpeza e Lavatech - Lavagem e Impermeabilização.

No comunicado, Murad diz que não se sente intimidado e que está à disposição das autoridades para esclarecimentos, que não se intimida com operação da PF e que sabe do entusiasmo e conhecimento prévio do governador Flávio Dino (PCdoB) e do irmão do comunista, o subprocurador Geral da República, Nicolao Dino, da iminente operação - que se confirmada será uma das maiores do Maranhão.

"A comemorada e anunciada (de forma antecipada pelo governador Flávio Dino!!!) operação da Polícia Federal não modifica, de modo algum, minha conduta ou meu comportamento, porque tenho convicção da lisura de meu agir à frente da SES e a crença no Poder Judiciário independente, onde poderei comprovar que não pratiquei malfeitos, a propósito, estou - como sempre estive - à disposição da Justiça para prestar todo e qualquer esclarecimento que seja necessário. Ponho, de igual modo, todos os meus sigilos à disposição das autoridades imparciais para verificações que entenderem suficientes à comprovação de minha correção à frente da SES. Meus endereços - em São Luís e em Coroatá - igualmente estão aberto sem necessidade de busca", diz o ex-secretário de Saúde em um dos trechos do relato.

Sem salário há quatro meses, funcionários do Hospital de Matões paralisação atividades
Maranhão

Paralisação foi iniciada nesta sexta-feira (13). Cirurgias tiveram de ser cancelas

A Unidade Avançada do Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho, no município de Matões do Norte, referência no tratamento de traumas e cirurgias emergenciais da região, teve suas atividades paralisadas, nesta sexta-feira (13), após funcionários da empresa terceirizada Litucera, responsável pela limpeza e fornecimento de alimentação para os pacientes da unidade, decidirem cruzar os braços como forma de pressionar o governador Flávio Dino (PCdoB) a liberar o pagamento atrasado há quatro meses.

Por causa da paralisação, todas as cirurgias marcadas para o período da tarde de hoje e para as próximas duas semanas tiveram de ser canceladas.

Além da população de Matões do Norte, a paralização das atividades no hospital prejudica moradores dos municípios de Anajatuba, Arari, Belágua, Cantanhede, Itapecuru-Mirim, Miranda do Norte, Nina Rodrigues, Pirapemas, Presidente Vargas, São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos, Vargem Grande e Vitória do Mearim, e deve provocar o aumento da vinda de pacientes do interior para São Luís.