Juíza dribla governo em pedido de compartilhamento de inquérito da PF
Política

Juíza dribla governo em pedido de compartilhamento de inquérito da PF

Último pedido feito pela PGE foi sobre outro inquérito. Apesar do acesso, governo não deflagrou operação contra desvios na Seap

A juiz federal Cláudia Schlichia Giusti, titular da 1ª Vara Federal do Maranhão, tomou uma medida curiosa que acabou impedindo o compartilhamento imediato do inquérito da Polícia Federal na Operação Rêmora com o Palácio dos Leões, por meio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE).

Segundo a movimentação processual do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, o pedido de compartilhamento dos autos foi feito pela PGE na terça-feira passada, dia 6. Porém, um dia depois, em vez de conceder o acesso imediato da operação federal que brecou o desvio de mais de R$ 18 milhões da saúde estadual, a magistrada resolveu dar vista do processo ao Ministério Público Federal (MPF), para que o órgão se manifestasse a respeito da solicitação, em virtude do sigilo das investigações.

Embora, aparentemente, a ação da magistrada possa ser encarada como normal aos trâmites processuais, a inércia do governo Flávio Dino em relação a um outro inquérito da Polícia Federal, já compartilhando com o Palácio, aponta que a juíza Cláudia Giusti possa ter, na verdade, dado um drible no governo.

Operação abafa

Há quase três meses, após deflagração da Operação Turing pela Polícia Federal para barrar a sangria dos cofres públicos na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), a PGE também solicitou e teve o acesso imediado aos autos da investigação. Assim como divulgado pelo órgão sobre o pedido relacionado à Turing, de que a intenção do governo era a de descobrir como se deu todo o esquema perpetrado pelo então funcionário da Seap, Danilo dos Santos Silva, a PGE distribuiu nota à imprensa, ontem 12, alegando que o objetivo do acesso ao inquérito da PF na Rêmora tem como único objetivo o conhecimento profundo das irregularidades atribuídas ao Instituto de Desenvolvimento e Apoio à Cidadania (Idac) na prestação de serviços à Secretaria de Estado da Saúde (SES), para então ser tomadas as medidas necessárias.

Ocorre que, de março para cá, mesmo após tomar profundo conhecimento de como Danilo dos Santos, segundo aponta a PF, montou um esquema de compadrio e fraude em licitações dentro da Seap para afanar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), não houve até agora a divulgação, por parte do Governo do Maranhão, a respeito de qualquer operação da Polícia Civil na pasta, e nem se soube mais qualquer notícia sobre o caso.

Nos bastidores, inclusive, a informação é de que agentes do governo já teriam destruído provas.

Logo, como as investigações da Operação Rêmora apontam, segundo a CGU, para o envolvimento de agentes políticos no esquema do IDAC — que, segundo o ATUAL7 apurou, seria uma trupe encabeçada por uma dupla do Palácio dos Leões e da Assembleia Legislativa do Maranhão —, o indeferimento imediato do pedido de acesso aos autos pela PGE poderia ascender a luz vermelha dos alvos que ainda estão sob investigação da Polícia Federal, já que outra operação para combater o desvio de recursos da SES pode ser deflagrada a qualquer momento.

Como informou o delegado Wedson Cajé Lopes, da Polícia Federal no Maranhão, em entrevista ao quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?”, do Fantástico, Rede Globo, diante dos indícios dos vultuosos assaltos aos cofres públicos da saúde do Maranhão, as investigações sobre o caso, iniciados desde a Operação Sermão aos Peixes, são permanentes.



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